DRESDEN: Maravilhas na beira do Elba

Anibal de Almeida Fernandes, Julho 2010.


Kurt Vonnegut Jr. que era prisioneiro em Dresden, escreveu o famosíssimo livro Matadouro 5 usando o absurdo surreal da destruição de Dresden, como alavanca para demonstrar o absurdo da guerra e da existência humana.


Estive em DRESDEN em 2010 e a cidade está totalmente reconstruida e a lembrança do horror do bombardeio se torna presente na Igreja que deixou pedaços da construção original na praça em frente para lembrar a catástrofe. Em Dresden conheci o mais formidável, completo e importante museu de porcelana que já visitei. É impressionante a riqueza das peças, descobri porcelanas chinesas pretas e sangue de boi (vermelho chines) que nunca tinha sabido que existia, porcelanas japonesas lindíssimas enfim é extraordinária a quantidade e qualidade das peças que lá estão expostas, tem um festival de porcelena Meissen brancas e coloridas e algumas peças enormes, é imperdivel uma visita nesse museu. Impressiona tambem o Fürstenzug, um enorme mural externo com 24 mil azulejos expostos em 102 m. que relatava a crônica dos príncipes da Saxônia.



Coube ao principe-eleitor da Saxônia August der Starke, Augusto o Forte (1670-1733), conhecido como O Cavaleiro Dourado, que naqueles tempos empunhava também o cetro da Polônia, tornar Dresden um assombro arquitetônico. A emulação para tanto viera do seu vizinho e rival Pedro o Grande, o czar da Rússia, o Cavaleiro de Bronze que, em 1703, erguera a magnifica São Petersburgo, nos pântanos do Rio Neva. Não demorou em que entre a Paris de Luís XIV e a capital do czar Pedro, nada houvesse que se equiparasse à bela Dresden, onde o grande Palácio Zwinger, em estilo barroco tardio (obra de Pöppelmann), que fazia às vezes de galeria de arte, biblioteca, museu e orfeão musical, convertera-se num centro extraordinário de ebulição cultural. Uma das suas outras maravilhas, abrigada no Palácio Real, era a Fürstenzug, um enorme mural externo com 24 mil azulejos expostos em 102 m. de comprimento, que relatava a crônica dos príncipes da Saxônia, exposição que exaltava a excelência das fábricas de porcelana que atuavam no reino.


 

Famosa também a Semperoper, a casa de ópera cuja celebrada acústica serviu para que Richard Wagner nela estreasse, entre 1842 e 1845, o seu Rienzi, o Navio Fantasma e o Tannhäuser, e regesse ali a Nona Sinfonia de Beethoven. Com Praga, Viena e Budapeste, Dresden com justa razão chamada de a Florença do Elba, formava no século XIX um quarteto de esplendidas cidades da Mitteleuropa, da Europa Central, onde se podia usufruir o melhor da vida. Repletas de cafés, de estupendos jardins, de academias de arte eletrizadas pelo vai e vem de pintores e músicos, de declamações de poetas e consertos de grandes solistas, em belos locais sempre lotados, nos quais os sons de polcas, valsas, e as lieden de Schubert, misturavam-se a proletária cerveja e a aristocrática champanha. Este entregar-se ao hedonismo produzia um estilo de vida que se consagrou pela expressão “boêmia”. Enquanto Berlim representava a coroa e o quartel, Frankfurt o cifrão do dinheiro, Dresden foi, por mais de dois séculos, a favorita da lira e do verso da Alemanha.

Foi então que nos estertores da 2ª Guerra Mundial tudo aquilo terminou numa só noite. Às 21h30min. de 13 de fevereiro de 1945, um barulho atordoante tomou conta dos céus da cidade. Quase mil aviões Lancasters da RAF (Real Força Aérea), a mando de sir Winston Churchill, tido até então como homem da cultura, começaram a descarregar a primeira leva de bombas sobre a cidade. Choveram lá do alto 1.478 bombas explosivas e mais 1.182 incendiárias. Em seguida, foi a vez das fortalezas voadoras dos americanos que jogaram uma carga de 1.800 bombas e outras tantas de magnésio para por fogo na cidade.

Nos dias seguintes, num arremate final do terror, aviões mosquitos da RAF, em vôos rasantes, varreram à metralha as estradas vizinhas, atulhadas com os sobreviventes em fuga, para mostrar-lhes que o inferno os perseguia também ali. No final de tudo, impressionantes pilhas de cadáveres retorcidos, com cem, com duzentos mortos cada uma, pirâmides humanas ainda fumegantes, espalhadas por toda a Dresden, disputavam em horror com os escombros de séculos de beleza e de história devoradas num par de horas.



Na imagem pós-guerra do fotógrafo Richard Peter, uma ação de terror. A estátua na Câmara Municipal de Dresden, que parece contemplar a mais completa devastação embaixo, é um momento de perfeição fotográfica. O bombardeio de fevereiro de 1945 foi uma das ações mais controversas dos aliados. Entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, 1296 bombardeiros americanos e britânicos despejaram 3 900 toneladas de bombas numa cidade que era basicamente um alvo civil. O ministro da Propaganda nazista, Joseph Goebbels, imediatamente publicou a astronômica cifra de 200 mil mortos (estimativas modernas estão por volta de 25 mil). UOL: 13/7/17. Dresden, em poucas horas, foi transformada na maior fogueira do mundo. Um calor que ultrapassou a 800° graus incinerou ou asfixiou quase toda a população civil. Calcula-se que os mortos oscilaram de 35 a 135 ou 220 mil vítimas, 80% delas eram mulheres, criança e idosos, visto que os homens estavam no fronte da guerra (o número de mortos ultrapassou a todas as baixas civis inglesas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial e foi quase equivalente aos mortos de Hiroxima, abrasados em 6 de agosto daquele mesmo ano). O guia que nos apresentou a cidade informa que é quase impossível determinar o numero exato, pois havia uma enorme quantidade de refugiados da Polônia e da Alemanha que imaginavam estar seguros na cidade por ser uma cidade monumento.



Churchill, Cavaleiro da Rainha, Prêmio Nobel de literatura em 1953, que ordenou a dizimação da cidade, que arrasou numa sentada só mais prédios e objetos de arte do que todos os bárbaros do passado, de Atila a Gengis Kã, justificou-se dizendo ao Marechal do Ar Arthur Harris, apelidado com todos os motivos de Harris Bombardeador, o executor da tétrica operação, que ele, Churchill, “preferia a devastação total das cidades alemãs do que a perda de um só osso de um granadeiro inglês”.


Uma sacada do conjunto Zwinger



Quase nada sobreviveu do palácio real, do conjunto Zwinger, da ópera Semperoper, da galeria de artes e do teatro Schauspielhaus, assim como a igreja Frauenkirche, obra do mestre barroco George Bähr, que com sua cúpula de pedra se sobressaía na silhueta da cidade.

O templo luterano consagrado às Nossas Mulheres Queridas ainda resistia de pé na quarta-feira, quando centenas de habitantes, que haviam procurado abrigo nela, deixaram seu interior. Na segunda manhã após o bombardeio, às 10 horas, as paredes e colunas não resistiram mais e a igreja veio abaixo.

Construída entre 1726 e 1743, a imponente Frauenkirche acolheu os fiéis e fascinou por sua cúpula de arenito durante pouco mais de 200 anos, até que os Aliados promoveram, na noite de 13 de fevereiro de 1945, um de seus mais devastadores ataques durante a Segunda Guerra Mundial.

Ataque surpresa

Até então, a outrora cidade residencial dos príncipes saxões só conhecia os horrores da guerra através de relatos de soldados e de refugiados alemães, que fugiam da ofensiva soviética no Leste e acreditavam ter encontrado em Dresden um local seguro.

Sobrevivente do ataque, Ilse Walter recorda como todos foram surpreendidos pela noite de terror. "No rádio, houve um informe de que bombardeiros estavam sobrevoando Hannover e Braunschweig. Bem, isto nós ouvíamos diariamente e as duas cidades ficavam, para a época, bem longe de Dresden.

 

 
















 
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Genealogia e Historia = Autor Anibal de Almeida Fernandes